Todos os moradores de Armindra temem em sair quando a escuridão toma conta da paisagem do reino, mas até então nada de catastrófico havia acontecido; sempre eram pequenos saques e alguns animais mortos. Esse medo aumentou após serem ouvidos uivos durante a madrugada e foram denunciados alguns desaparecimentos, mas o terror começou mesmo quando o noivo de Skalla, Lance Kafka, havia se tornado mais um nas estatísticas de desaparecidos. O choque foi grande, pois Skalla e Lance iriam se casar no dia seguinte ao acontecimento. Ele era um dos dois filhos de uma família muito rica e poderosa em Armindra, seu irmão mais velho tinha nas veias o sangue de um soldado, mas já se iam seis anos da sua morte na parte congelada de Plates, a informação era que Kiros Kafka havia caído em uma fenda no gelo formada de repente sob seus pés. Lance nunca foi de aventuras, ainda mais depois deste episódio, e Skalla o resguardava, pois sabia dos riscos que sua família corria. A vida de Skalla não era mais a mesma, ela jurou que rira encontrar seu noivo; isso assustou os moradores de Armindra, todos sabiam que ela não iria concentra-se na proteção do reino e sim em sua busca.
O boato é de que um lobisomem de cor azul era o causador dos desaparecimentos, acreditavam que o Lobo Azul, como era chamado, não passava de uma lenda para amedrontar os moradores e os manter em casa durante as noites, mas os sons noturnos discordam da história e mesmo quem não acredita não se arrisca em caminhar pelas ruas sob o luar.
Bastaram duas noites para o rei colocar todos os soldados nas ruas e deixar o reino em alerta máximo. A primeira noite que chamou atenção não se ouvia nada nas ruas, nem animais, nem pessoas, e surpreendentemente nem os uivos, apenas um grito de mulher e um sussurro delatado por um anão que dizia “Seja bem vinda!”. Até aí nada preocupou o rei, mas na noite seguinte gritos pediam ajuda sem muito sucesso, ninguém queria se arriscar. Pela manhã o resultado, a Casa do Tesouro havia sido roubada! Foram dezesseis guardas mortos, onze feridos e muito ouro roubado. A explicação dos sobreviventes era a de só ouvirem sons amedrontadores e gritos, mas não puderam ver quem os atacara, pois se movia muito rápido, o mais provável é de que o Lobo Azul havia sido o autor de tal brutalidade; somente dois soldados deram uma versão diferente ao acontecido, eles dizem ter visto o vulto de um homem carregar todo o ouro roubado, mas não puderam descrevê-lo; ninguém ali presente acreditou na versão dos dois homens já que no local havia vários indícios de que um animal com garras muito fortes seria o causador. Morran e Steve Maxpower estavam em meio à confusão, mas não pareciam preocupados, não era problema deles, mas de certo o lugar mais seguro do reino havia sido roubado e todos não imaginavam como tal coisa pode acontecer. Eles voltam à taverna onde passaram a noite para arrumar seus pertences e partir, mas antes param para beber coragem. O comentário em todos os cantos era sobre o atentado a Casa do Tesouro, muitos acreditavam na história do lobo e alguns poucos não, esses diziam que o lobo não precisaria de ouro, mas não tinham explicações para as marcas de garras nas paredes.
O anão diz ao cabeludo que devem partir em busca do pergaminho porque achara que estão em desvantagem aos demais aventureiros contratados pelo rei, mas Steve Maxpower tem outros planos, ele informa o rabugento Morran que eles iriam atrás de algo particular e lhe mostra um mapa.
Morran – Onde encontrou isso?
Steve Maxpower – Estava caído perto da Casa do Tesouro, talvez seja um dos itens que ali era guardado, e se lá estava deve ser muito importante!
Tratava-se do “mapa das Sete Salas”, mas nenhum dos dois conhecia a história do mapa, então eles resolveram ir atrás de um clérigo, geralmente um humano instruído, o estudo dos conhecimentos naturais era uma pequena parte de sua escolaridade. Esses estudiosos viviam numa atmosfera que dava prioridade à fé e tinham a mente mais voltada para a salvação das almas do que para o questionamento de detalhes do universo físico. Ao chegar o clérigo explica aos viajantes que não se têm muitas informações sobre as sete salas e que não se sabe o que pode haver além delas, o clérigo informa que o mapa foi objeto de desejo de muitos por muito tempo, principalmente na era dos “Quatro Santos”. Morran indaga-o sobre essa história de “santo” e ele explica:
Clérigo – Eles são as forças mais poderosas existentes no universo, fogo, terra, água e ar, cada um controla um elemento. Há muito tempo diz-se que os “Quatro Santos” ficaram furiosos com os seres que nosso planeta habita, vieram e devastaram grande parte da população, muitos os combateram, mas nenhum com grande sucesso; foi então que surgiu a história de que no final das Sete Salas existia o poder para vencê-los, seria o poder de Kamethor, o Quinto Santo, quem chegasse ao final controlaria os quatro elementos.
Essa história deixou nossos heróis com um desejo incontrolável de obter tal poder, mas o clérigo continua a dizer que não há comprovações de que isso seja realmente verdade, o mesmo não acredita que os “Quatro Santos” possam ser vencidos. A cobiça dos guerreiros foi por água abaixo literalmente quando um guerreiro foi engolido juntamente com o mapa por um Leptus, animais marinhos detentores de um rubi muito valioso entre seus olhos.
Após serem abençoados pelo clérigo eles partem. O mapa indica que as Sete Salas ficam além da floresta de Tentro. Os dois caminham discutindo a história que acabaram de ouvir e quando menos esperavam já estavam caminhando em Tentro, por isso sua atenção foi redobrada. As árvores de Tentro eram antigas e seus troncos muitas vezes tinham formas de rostos, o que a deixava mais assustadora ainda, e é claro que seus sons não eram nada agradáveis. Caminhando, algo chama a atenção dos viajantes, uma manada de unicórnios dá a eles uma sensação de alívio, já que unicórnios são seres puros e difíceis de serem domados, sabem que por ali o mal não está, mas a viagem deve continuar e por isso continuam andando. A floresta, mesmo durante o dia, é escura, mas com alguns pontos abertos, como onde estavam os unicórnios, só que um clarão surpreende Maxpower e Morran, e quando a visão deles volta estão em um grande campo aberto cercado por árvores.
Steve Maxpower – Atravessamos a floresta?
Morran – Ainda não, vejo mais árvores logo à frente.
Morran via o que Maxpower não podia pela distância, então a caminhada continua. O mato que bate nas cinturas de Steve Maxpower e quase encobria Morran, por muitas vezes se movia como algo saindo e abrindo caminho a eles, só que nada podiam ver por isso o cuidado era pouco para a ocasião. Quando estavam bem ao centro do campo uma sombra os cobriu, o que os fez olhar para cima e avistarem um pássaro grande e bem diferente, eram quatro asas e uma cauda longa com três pontas, a mesma passou por eles, deu a volta e veio na direção de Maxpower com um rasante muito veloz, por pouco ele conseguiu abaixar e desviar do golpe fatal da ave, levantando-se com sua espada empunhada. Steve Maxpower estava prestes a flamejar sua arma quando foi interrompido por Morran alertando-o sobre o risco de colocar fogo no matagal inteiro, risco possivelmente superado por Maxpower, mas fatal para o anão. Morran, quase não visto, se armou com o martelo e disse para Maxpower ficar imóvel perante o ataque do pássaro, posicionou-se a sua frente e aguardaram. Logo o animal estava voando na direção de Steve certo de que cravaria seu bico no peito do forasteiro, Steve por sua vez, preparou-se para abaixar novamente desconfiando do plano do pequenino. A ave estava cada vez mais perto, foi então que Maxpower avistou Morran sair do mato com um grande salto atingindo com seu martelo o peito do pássaro arremessando-o para longe; o pássaro cai ainda vivo, mas não se levanta. A dupla segue caminho e atravessa o campo, logo em seguida chegam a uma árvore deveras diferente, no lugar de folhas cipós brancos e brilhantes e sua copa ela larga. Admirando sua beleza, uma voz é dirigida aos dois dizendo: “Como passaram pelo pássaro?”
Morran – Quem está aí? Apareça, verme insignificante!
Aparece então em um galho da árvore um gnomo surpreendido.
Gnomo – Ninguém por muito tempo não passa pelo pássaro, como passaram?
Steve Maxpower – Aquele pássaro?! Ha! Foi fácil abatê-lo. Quem é você?
Gnomo – Meu nome não importa, só não toquem na árvore!
Steve Maxpower – E por quê?
Gnomo – Esta é a árvore do destino, ela mostra o futuro de quem a tocar.
Steve Maxpower gostou da idéia de conhecer seu futuro e sem demoras, ignorando o alerta do gnomo, aproximou-se da árvore, os cipós da mesma foram em sua direção e o prenderam o corpo todo deixando apenas sua cabeça para fora, Steve grita como se seu corpo fosse perfurado, enquanto o gnomo gargalhava em cima do tronco. Morran tenta se aproximar, mas o gnomo o adverte que acontecerá o mesmo com o anão se ele chegar mais perto. A árvore então liberta Steve Maxpower, mas ele fica imobilizado ao chão.
Gnomo – Agora sim, pode aproximar-se do seu amigo.
Morran aproxima-se de Maxpower e indaga o gnomo sobre o que havia acontecido; o gnomo diz que o futuro de Steve Maxpower era alimentar a árvore com sua energia e foi o que aconteceu, mas pede que Morran não se preocupe, o amigo ainda estava vivo, envenenado, mas vivo.
Morran – Envenenado!
Gnomo – Há um vilarejo a poucos metros daqui, no fim da floresta, procure um alquimista, ele irá ajudar seu amigo, mas cuidado com as abelhas e não entre na cabana!
Dito isso o gnomo desaparece. O anão não dá muita importância às palavras do gnomo, coloca Steve Maxpower nos ombros e começa a caminhar. É claro que com o excesso de peso sua caminhada é lenta e a noite começa a cair em Tentro, os movimentos da selva à frente revelam a Morran que ele não está sozinho, mas ele prossegue destemido e confiante em salvar seu companheiro de viagem. No mais inusitado passo, Morran para frente a um arbusto, parece ter ouvido alguma coisa, o arbusto começa a se movimentar como se algo estivesse escondido nele, foi então que um sussurro na mente do anão o alertou: “Cuidado!” dizia o sussurro. Neste instante salta do arbusto um lobo muito feroz e certo de que Morran seria seu jantar. O bravo guerreiro se afasta um pouco do lobo dirigindo-se a uma árvore e encosta Steve Maxpower ao seu pé, dá dois tapinhas em seu rosto e se vira contra o lobo armando-se com o martelo de Thor; o lobo continua a rosnar em posição de ataque. Morran – Pode vir!
O animal avança contra Morran saltando em sua direção, ele se protege com o martelo e lança o lobo ao lado, o anão então com força bate seu martelo contra o solo causando um tremor seguido de uma onda de terra que vai em direção a seu adversário atingindo-o em cheio, esse golpe machucou o lobo que novamente se posiciona para o ataque, mas antes ele uiva e aí sim parte para o ataque; quando chega perto Morran gira seu martelo em um golpe direto, mas o lobo freia sua corrida e o golpe atinge apenas o ar, nesse movimento um segundo lobo morde a perna do anão que o afasta com um soco. Morran se vê acuado, e mais lobos começam a sair da mata o cercando, parece que aquele uivo foi um pedido de ajuda, o herói manca para trás sentindo muita dor em sua perna, ele chega à árvore onde Steve está encostado. Surpreendentemente os lobos começam a grunhir como se estivessem sentido dor, e Morran consegue perceber que muitas abelhas cercam a matilha atacando-os, assim os lobos fogem perseguidos pelas abelhas.
Morran – Isto foi deveras estranho, mas agradeço.
Ele carrega novamente Maxpower e parte, ainda mais lento, rumo ao vilarejo. No caminho Morran avista a cabana informada pelo gnomo e, embora sua vontade seja outra, não entra por saber que um alquimista era o que eles precisavam.
A caminhada prossegue e o dia surge juntamente com a saída da floresta, os dois atravessam a ponte que separa o vilarejo da floresta e enfim chegam.
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