Até mais ver: Se você não tem certeza, experimente pintar de vermelho

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Se você não tem certeza, experimente pintar de vermelho

Achei que o meu único post para o mês de dezembro seria um post semanal (essa piada fica sem graça quando eu conto, ou é só impressão?) sobre a música Binks no Sake, atualmente uma de minhas favoritas. Enfim não encontrei uma versão dela que eu queria até a presente data. Então aqui vai um post só pra não passar o mês em branco.
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O Rei com orelhas de Burro

Conta-se que uma vez viveu neste mundo em um reino muito distante, um rei que tinha peculiares orelhas de burro. Plantadas no cocuruto de sua cabeça, eram bem compridas e da mesma cor de seus cabelos castanhos. Também eram muito práticas pois permitiam ao rei saber de todas as conversas em seu reino. Não sabe se elas eram de nascença ou castigo, por que de fato ninguém do reino sabia de tais orelhas a não ser o seu barbeiro que era mudo e o seu primeiro ministro que era de confiança. De fato o rei tinha muita vergonha de tais orelhas, pois eram grandes e feias. Disfarçava seu defeito físico usando uma coroa especialmente desenhada para este propósito. Nunca cogitou removê-las, pois devia doer pra burro (certo, isso foi uma piada triste.)
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E até aí, a vida desse rei era banal como a de qualquer outro rei (se é que alguém pode chamar a vida de um rei de banal). Mas então o seu barbeiro que também era um senhor de idade veio a falecer. E isso se tornou um problema pois o rei, também precisava cuidar de seus cabelos, mas não podia se dar ao luxo de denunciar o seu segredo por aí. Mais tarde naquele mês aconteceu de encontrar seu novo barbeiro na figura do filho mais velho, do seu barbeiro anterior. Foi uma pesquisa conduzida com exímio cuidado, pois fofoqueiros não seriam tolerados (e o Virgulino, Quentin Tarantino, e todas as pessoas que assistiram Old Boy, sabem a que estou me referindo).

Assim que foi possível, o novo barbeiro fora apresentado a peculiar figura do rei. E despistando o fato de que o novo barbeiro não era mudo como seu pai, nenhuma palavra foi mencionada durante aquela hora. O corte de cabelo não ficou nenhuma obra de arte, mas o rei terminou satisfeito. Após pegar sua gorda recompensa, então o primeiro ministro advertiu o barbeiro:
— Espero que esteja ciente de que o que foi confiado a você hoje é um segredo que vale mais do que todo o ouro que você possa sonhar em ter durante toda a sua vida sr. barbeiro. Mas que isto, esteja certo de que se alguém além das pessoas nesta sala tomarem conhecimento deste fato. Seram arrancadas não só a sua língua como a de sua mulher e de seus filhos.

E o barbeiro humildemente se retirou. E todos ficaram contentes e de acordo.
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Passaram uma semana, duas, três. Não sei como funciona para vocês leitores, mas para este infeliz barbeiro, conforme a tempo se passava a pressão psicológica começou a se tornar insuportável. Foram-se um mês, dois, três. A cada visita aquelas orelhas do rei se tornavam mais grotescas e dignas de escárnio, mas o medo impedia o barbeiro de pronunciar palavra. Apesar de ter um dos empregos mais bem remunerados do reino, sua imagem era sem dúvida a de um homem com muita pouca saúde.
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Mais seis meses se passaram (e fico impressionado que tenha durado tanto tempo) e um dia o barbeiro empacotou algumas coisas, beijou sua esposa, afagou a cabeça de seus filhos e disse que precisava viajar e que talvez não voltasse. A esposa se preocupou, mas o estado de saúde daquele homem era mais grave. Tudo o que ela pode fazer foi desejar:
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— Vá com cuidado.
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E o homem selou um cavalo e partiu pra região mais erma e distante que pode. era um lugar deserto. Árido e sagaz, mas o principal de tudo: não tinha mais ninguém. Sem demora ele começou a cavar com todas as suas forças e cavou e cavou. Quando sentiu que o buraco estava fundo reuniu etodo o ar restante em seus pulmões e gritou:

— O REI TEM ORELHAS DE BURRO!!! (COM ECO)
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Saiu as pressas do buraco e jogou terra. Pronto, estava feito. Quando voltou para sua terra natal era outro homem, estava curado. E a vida seguiu seu rumo sem nada demais. Mas a questão é que ainda não chegamos no clímax da história...
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Havia passado um mês quando um menestrel errante havia aportado por aquelas bandas. Era famoso pois as trovas que cantava eram as mais inacreditáveis. E essa que ele apresentou com certeza soaria absurda até mesmo para vocês. No deserto ao norte da cidade onde nada nasce e nada morre ele havia presenciado uma coisa sem par:

Um bambuzal cantor. Robusto e alto, verde como nenhum outro. Milagrosamente brotara sem água e sem semente e como se não bastasse tinha um canto bem curioso. Toda vez que o vento do deserto o atravessava, mas ou menos como um assovio o mais atento ouvinte podia ouvir o que se narrava. Que o rei tinha orelhas de burro!

O Barbeiro teve um ataque do coração quando ouviu da sua filha a história. E quando acordou, encontrava-se na presença do rei que lhe fizera um convite de bom grado para ir junto dele, do bardo, do ministro e de mais um grupo de aventureiros ir ver o tal bambuzal. De fato o bobo do reino propôs que todos os que quisessem deveriam ir e figurar a tal descoberta com seus próprios olhos e ouvidos!

E assim se deu. E todos foram. E o barbeiro já estava ciente de que sua pena e a de sua família seria executada ali mesmo. Estava certo de que encararia sua responsabilidade como homem, mas de fato não podia deixar de interceder por sua família que não tinha nada a ver com a situação. Então diante de todos os que ali foram, na hora em que o seco ar do desrtop se manifestou. O Bambuzal contou a sua história:

— O REI TEM ORELHAS DE BURRO!
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Risadas ecoaram por todos os que estavam presentes na multidão. Até mesmo entre a inocente família do barbeiro. O barbeiro se atirou aos pés do rei e implorou clemência para sua família. Dele podia tirar o quisesse: olhos, língua, até mesmo a pele. E então o rei tirou sua capa do alcance do barbeiro e mandou que se levantasse:

— Eu escondi este segredo por vergonha e o primeiro ministro por amizade, mas vendo o seu desespero, acredito que não teve má fé e que ouro não foi pagamento suficiente pelo seu silêncio. De fato desde que Deus colocou tais aberrações sob a minha coroa, eu devia saber que o dia de hoje era algo inevitável. E então removeu a coroa.
E então todos fizeram silêncio:

— O REI TEM ORELHAS DE BURRO! — proferiu o bambuzal.
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E enfim é como dizem: fofocas duram só 75 dias. De epílogo, pode-se deixar que o barbeiro teve uma vida mais sossegada com sua esposa. Seus filhos todos fizeram bons casamentos. O Bardo fez sucesso por mais algum tempo com a sua história do bambuzal cantor e que certa noite, perdoado de seus pecados o rei se viu livre de suas horrorosas orelhas, no mesmo dia em que o bambuzal feneceu no deserto. E sentiu falta. Tem gente que nunca fica feliz...
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É isso
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Até mais ver com outra histórinha sem graça

mr.poneis
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ps.: Novamente imagens creditadas ao site Gelbooru.com(+18). Desconheço os verdadeiros autores
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ps2.: smurfbot-dog (Bom só pra deixar registrado que eu estou acompanhando a temporada de natal no blog do Amer. Quando eu conseguir pensar em algo eu comento.)
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ps3.: Por algum motivo achei que essa histórinha tinha algo haver com o rei Lear. Mas o resumo da Wikipedia é muito confuso. Vai saber...
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Ps4.: Tanta coisa pra postar, tanta preguiça...

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3 Verdades

Gustavo Borim disse... [responder]

Oyessssssss

Pergunta:

O que é aquele pontinho novo sobre Africa no mapa "Até mais ver pelo mundo'?

Resposta: Um pontinho nem sempre é só um pontinho, trata-se do 'Até mais ver' acessado por todos os continentes. Agora coloquemos em prática nossos planos de dominar o mundo...

Abçs e boas festas a todos, até mais ver

PS: Prometo ainda ler o post Poneis.

Palilo

Virgulino disse... [responder]

Historinha interessante, caro colega. Garanto que não é japonesa, pois com certeza as coisas não acabariam tão normalmente assim em uma história nipônica.

Até mais ver..
PS: Cuidado com o português.
PPS: Falo dó idioma, não de um gajo qualquer.

mr.Poneis disse... [responder]

Bom, é grega. Também é grega (reeditada em inglês pelo Shakespeare) a histórinha do rei Lear ao qual me refiro no mesmo post. Tente ler e verá que eu estou certo ao afirmar que "a bizarrice está nos olhos de quem vê".

Até mais ver
mr.poneis

ps.: E sim finalmente Africa, e pra 2009 a lua! e 2010 a quarta dimensão, seja lá onde isso for...

ps2.: Será que eu posso contar com um feedback do sr. Palilo pra este post?

ps3.: E parece que eles levaram a cabo (e agora, com ou sem crase?) esse negócio de reforma ortográfica (e isso tem ou não acento?; o não ainda leva til? tá, isso já foi divagação demais até pra mim...).