Até mais ver: Dee...

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Dee...

Manifesto Em Defesa Da Loucura:
“A loucura tem razões que a sensatez desconhece.”
Igor Telorius, clérigo de Tanna-toh.



O que há talvez de mais fascinante na loucura é justamente o fato dela desafiar qualquer entendimento. Eu digo que é totalmente impossível àqueles que são normais entender o que se passa na cabeça de um louco. Por isso mesmo toda narrativa sobre a loucura não passa de suposição e falsidade. Não me levem, pois, a sério. Só seria verossímil se um louco resolvesse explicar sua condição. Ainda que ele seja um exímio escritor, conseguiria ele explicar-se usando as palavras e língua racional? Creio que não. Não seríamos capazes de compreender sua explicação tampouco. Pelo menos não em sua plenitude.
Mas como determinar quando o sujeito deixa a razão e chega ao status da loucura? Onde fica a linha divisória entre as duas condições? O que faz uma pessoa ser louca e outra “normal”? O que é ser normal? Sim, meus amigos, a loucura vive em todos nós. Quem nunca agiu impensadamente e depois se arrependeu? Quem nunca agiu impensadamente e teve um dos melhores dias de sua vida? Quem nunca se entregou e se deixou levar pela música que ás vezes a vida sopra em nossos ouvidos?

“Corra em direção à parede e abra caminho. Oh, como cantam no andar de cima! Há um andar em cima nesta casa, com outras pessoas. Há um andar em cima onde moram pessoas que não percebem seu andar de baixo, e estamos todos dentro do tijolo de cristal. Quando abrir a porta e assomar à escada, saberei que lá embaixo começa a rua; não a norma já aceita. A rua, a floresta viva onde cada instante pode jogar-se em cima de mim como uma magnólia. Rostos vão nascer quando eu os olhar e quando avançar mais um pouco. Quando me arrebentar todo com os cotovelos e as pestanas e as unhas contra a pasta do tijolo de cristal, e arriscar a minha vida passo a passo para caminhar à fonte apanhar água.”
Tzen Farman, clérigo de Nimb

“Cada objeto contém em si a ordem e a desordem, o potencial de desordem. Todas as coisas podem vir um dia a se desordenar e se desintegrar, quando isso ocorre, elas se deixam levar pela desordem. A loucura é uma música que se toca em todas as coisas. E desde pequenos aprendemos a não ouvir essa música. Tapamos nossos ouvidos. Sequer olhamos para as coisas! Uma vez que determinamos em nossas cabeças que isto em nossa frente é uma cadeira, deixamos de olhá-la. Os nomes se dão ás coisas para que deixemos de conhecê-las.
E custa resistir ao chamado do mundo à desordem. É preciso que sejamos mecânicos. Em cada movimento há uma possibilidade de transformação, em tudo que nos cerca. A cada ato, mesmo o mais delicado, devemos resistir de todas as forças, para que ele se cumpra com a fria eficácia de um reflexo cotidiano. Até logo, querida. Passe bem. É a doutrina do hábito.
O mundo parece gritar aos meus ouvidos: “Desvenda-me!” Aos seus também as coisas gritam o mesmo. É que não ouvem. A colher com que se alimentam lateja em seus dedos, adverte sua mente. Como custa negar ao pedido da colherinha, negar uma porta, negar tudo que o hábito lambe até dar-lhe uma suavidade satisfatória. É muito mais simples aceitar a solicitação do hábito, com a colher mexer sua bebida.
Romper caminho é castigar os olhos olhando para isso que no céu anda, que aceita astuciosamente o nome de nuvem, o nome catalogado na memória. Não é apenas fitando as coisas que elas se revelarão. Por que haveriam de fazê-lo? Vocês conseguirão somente aquilo que já tem de preparado e resolvido, o triste reflexo de sua esperança. Tamanha é sua vontade de resistir. Sua mente trava uma luta eterna contra a loucura. Recusa-se a ouvir.
Tenho pena de vocês. Não ouvem a música que toca no mundo. Não conhecem verdadeiramente o mundo e suas belezas. Por isso que se sentem incompletos. Por isso buscam febrilmente formas de possuir a tudo. A ânsia de tudo possuir nasce da ânsia de tudo entender. O desejo de tudo entender é o desejo de a tudo DOMINAR! Sim, classificar esse novo objeto, para que ele ganhe um nome e não mais desafie sua mente tentando entendê-lo. E assim dominá-lo e vencer mais uma vez a loucura que o possui quando vê o desconhecido. O desconhecido fascina e horroriza a muitos por conter uma música nova, que seus ouvidos não aprenderam a ignorar. Os demônios da Tormenta são o desconhecido. Eles são temidos por que desafiam a razão de vocês, pobres ingênuos.
Tolos são aqueles que buscam febrilmente o conhecimento, como se isso aplacasse seu vazio. Tolos são aqueles que lutam como forma de tudo ter. Destruir a tudo é também uma forma de tudo dominar. A ambição nada mais é que a ânsia por respostas. O que vocês buscam, inconscientemente, são respostas do mundo, é ouvir finalmente. Mas vocês não sabem disso. Enganam-se adquirindo bens e mais bens. Enganam-se adquirindo mais e mais conhecimentos. Enganam-se enfrentando a tudo para se provarem mais fortes. Ter as coisas é ouvi-las cantar sua música mais verdadeira. Quando destamparem seus ouvidos e escutarem a música que o mundo toca deixarão de desejar, terão compreendido. Saberão que sou eu, o louco, quem está com a razão.”

Klee, clérigo de Nimb

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Até mais ver
mr. poneis

Ps.: Cortesia: Lista Tormenta
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5 Verdades

Virgulino disse... [responder]

Você quer ouvir um louco falar sobre a loucura? Quer senti-la com semelhante intensidade com a qual eles a sentem? Ouça as músicas de Syd Barret. Psicologicamente (nas letras) e sonoramente ele faz um verdadeiro ode à loucura. Eu já ouvi gente dizendo que o Arrigo Barnabé fazia música de louco. Perto de Syd Barret, o que ele faz é, no máximo, um pouquinho "diferente".

Até mais ver..

PS: Socorro! O Banco está tentando fazer eu ficar normal!!

Gustavo Borim disse... [responder]

Virgulino,

Quando vale, em termos monetários, sua integridade "psico-fisica"?
Vale seu salário de bancário?
Ou melhor, vale o salário de seu gerente, cargo que um dia o sr. pode ocupar?
Melhoras e até mais ver

PS: bom post, outrora ei de realmente comentar sobre ele, principalmente da relação que a loucura tem com a música, qualé?

Até mais ver
Palilo

Pietra disse... [responder]

Quem vê pensa que esse povo trabalha muito mesmo.

O texto é bom.

Gustavo Borim disse... [responder]

Muito bem lembrado Pietra, início da jornada só as 10 horas, 6 horas de serviço/dia...

José, para onde?

Até mais ver
Palilo

mr.Poneis disse... [responder]

Prometo que vou me esforçar mais...

Bom, faltam só mais uns 50 mts² de mato mesmo... Isso sem falar na preguiça (Coisa que seria facilmente resolvida se eu estivesse dormindo agora).

Ah sim, obrigado pelos elogios ao texto (eu mesmo nem li sabe, mas tinha um título muito bom...)

Até mais ver
(f-_-)f