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— Sabe cumpadi, neste mundo não tem coisa nenhuma que me assuste viu. Nem Saci, nem assombração e nem nada. Sou um homi que do arto de meus 43 anos já vi coisa que muito matuto nem sonha que existe! — Diz Zeca ao Joca enquanto acendia o seu cigarro de Palha.
— E que tipo di coisa, seria essa cumpadi!? — Retruca o Joca com um ar sonolento, mas interessado.
— Xiii, cumpadi. Esse causo aqui é do meu tempo de minino. Vo ti conta da água mágica, lá do sitio do meu avô! — Zeca fazia uma cara de sério, enquanto tragava um pouco mais do seu cigarro. — Num tem par em ninhum lugar desse mundo di Deus!
— Uhum. — Joca agora estava prestando atenção.
— Cê sabe que esse sitio tá na familia desde um bão tempo né. Mais o ocorrido se deu nos tempo que meu bisavô era vivo e encontro uma nascente no topo do morro, lá nas divisa do sítio. Uma água que era uma dilícia, mas dava um trabaio danado subi o morro pra i busca. Então meu bisavô teve a idéia de construir uma canaleta de madeira pra mó di aconduzir a água até im casa. Uma beleza de idéia. Mais ai o tempo passo, a madeira apodreceu, e quando eu era mais novo aconteceu da canaleta cai di podre. Desfeiz-se toda! — Zeca apagou o pitoco de seu cigarro e jogou fora.
— Tá — Respondeu o Joca.
— Aí é que vem o mais legar. A mágica da água, é que depois de tanto tempo siguindo o caminho di casa, num éque o trem já tava treinado? A água tava vindo direto flutuando pelo ar até im casa! Deisde a nascente! É o num é a coisa mai fantardiga qui tu já iscutou?
— Xi, que isso num é nada! — Joca pegou um matinho ali perto e pôs na boca. — Eu mermo já fiz coisa muito mais istranha qui isso!
— Ah tá, qui isso é vredade! — respondeu Zeca, duvidando
— O si é! — retornou Joca — Cum essas mão aqui, ó!
— I qui milagre é esse qui tu feiz eu posso saber? — Zeca permanecia incrédulo
— Mais cum muito prazer. Si alembra quando eu fui capina as terra no Nhô firmino, tal quar esses dia? — A confiança do joca nem se abalará
— Mi alembro sim — Confirmou Zeca
— Pois é, tava eu naquele baita daquele capinzar arto, arto di trabaia nele di foice. Fazendo meu trabaio na maior paiz de Deus. Quando não mais qui aderrepente, mi surge a égua do Firmino com o pescoço na reta da foice. Foi zat! um gorpe só e eu arranquei a cabeça da bixa! — Joca encenava o ato com a sua enxada.
— Mais qui diabo, num era a égua favurita du ómi? — Zeca agora tinha se espantado
— I era — Joca respondeu na mesma calma que estava. — Eu até me ispantei na hora. Pensei cumigo mermo, agora eu to lascado. Mais ai veio a divina providença im meu socorro e graças a Deus eu resorvi o causo
— Mais como? Vai mi dize qui tu arreviveu uma égua qui num tinha mais cabeça? — Zeca debochou
— Arrivivi oras, cum um tubo di supercola qui tinha lá na hora bem no borso. — Joca demonstrava sua resposta orgulhoso. — Pena que na hora du disispero eu colei errado e a boca da égua ficou virada pra cima! Ai a cola secou i num deu di arruma mais.
— I tá baum qui eu vo querdita numa sandice dessas ómi di Deus! — Zeca agora estava triunfante — Cumé qui essa égua faiz pra cume?
— Ela agora come aquele mato que despenca dos arto dos barranco! — Joca respondeu entusiasmado —Veiz o otra ela si da o luxo di come foia di arvre iguar as girafa tamem!
— I cumé qui ela faiz pra bebe? — Zeca fez uso de sua última cartada.
— Simpres! — Joca sorriu — Ela vai lá na água mágica do seu avô!
— !!!
nota do poneis: Acunticido!
nota do poneis: Conto extraído direto do sabedorio popular mineiro (O Avô de um primo meu que contava). Desculpem os erros de caipirês, mas faz tempo que eu ouvi essa estória.
Até mais ver
Mr. Poneis
Ps.:
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