"Vem por aqui" - dizem me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não Acompanhar ninguém.
...
Não, não vou por aí! Só vou por onde
me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "Vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
...
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
...
A minha vida é um vendaval
que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
(Cântico Negro, José Régio)
"...Mas todo silêncio humano contém uma fala. Calamos não porque não tenhamos o que dizer, mas porque não sabemos dizer tudo aquilo que gostaríamos de dizer.
O silêncio humano é um calar e, portanto é uma comunicação implícita, um sentindo latente."
(Octávio Paz)